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O Questionário de Proust de Miguel Martins

Com o MAP a uma semana de distância, quisemos conhecer melhor os nossos convidados e lançar-lhes um desafio: responder a um Questionário de Proust adaptado e elaborado pelo jornalista Nuno Miguel Guedes. O primeiro entrevistado é Miguel Martins, curador convidado do MAP e membro da Favola da Medusa.

1) Qual é a sua ideia de felicidade plena?
A felicidade plena esvaziar-se-ia, tornando-se um inferno. Satisfaço-me com alegrias pontuais. 

2) Qual é o seu maior medo?
A dependência física.

3) Qual é a característica que mais detesta em si mesmo?
Nunca perdi tempo a pensar nisso. Mas, agora que o faço, talvez a inteligência que se teme burra.

4) Qual é a característica que mais detesta nos outros?
Colectivamente — “nos outros” —, também nunca pensei nisso. Mas, nalguns outros, talvez a burrice que se julga inteligente.

5) Que pessoa viva mais admira?
Alguns mortos que, para mim, estão mais vivos do que a maior parte dos vivos.

6) Qual é a sua maior extravagância?
O desapego aos bens materiais.

7) Qual considera ser a virtude mais sobrestimada?
Se é sobrestimada, não é uma virtude, mas sim uma virtudezinha, o que está a um passo de ser um defeito.

8) Em que ocasiões mente?
Sempre que o interlocutor não merece o dispêndio de energia que dizer verdade acarreta.

9) O que menos gosta na sua aparência?
Por comparação à de quem?

10) Qual a característica que mais aprecia em homens?
As mesmas que nas mulheres.

11) Qual a característica que mais aprecia em mulheres?
As mesmas que nos homens.

12) Que palavras ou frases usa excessivamente?
Suponho que os artigos e as conjunções, mais do que os adjectivos ou, sequer, os substantivos.

13) O quê ou quem é o maior amor da sua vida?
Achas que isso são coisas de que se fale em público? 

14) Onde e quando foi mais feliz?
Em toda a parte, entre os 15 e os 18 anos. Depois, em toda a parte, desde que com as pessoas de que não falo em público.

15) Que talento mais gostaria de ter?
O que primeiro me vem à cabeça: o de marcar um golo pelo Benfica.

16) Qual considera ser a sua maior conquista?
Prescindir de conquistas.

17) O que mais valoriza nos seus amigos?
Tudo. O absoluto é indivisível.

18) Quem são os seus artistas favoritos?
Os que são, eles próprios, a sua maior obra de arte.

19) Quem é o seu herói da ficção?
Quando passam a heróis, deixam de ser ficção e tornam-se mais reais que o real. Mas, vá, concedo: Job.

20) Com que figura histórica mais se identifica?
Oscilo entre a figura de parvo e a má figura.

21) Quem são os seus heróis da vida real?
Ver resposta à quinta pergunta.

22) Qual é o seu maior arrependimento?
Ver resposta à décima terceira pergunta.

23) Como gostaria de morrer?
“Alegre” seria uma boa resposta, caso não estivesse certo da Eternidade.

24) Qual é o seu lema de vida?
No sentido de normas de procedimento, não tenho, pelo que poderia ser “Uma vida sem lemas”. Ou, em alternativa, “Traga-me, por favor, mais uma dose e outra garrafa”.

25) Onde gostaria mais de viver?
Dez meses por ano algures em local a determinar, no Algarve ou na costa europeia do Mediterrâneo, e os outros dois em Polperro, na Cornualha.

26) Qual é o bem mais valioso que tem?
A memória/as memórias.

27) Qual considera ser a maior profundidade da miséria?
O medo dela quando se sobrepõe ao que achamos estar certo.

28) Qual é a sua ocupação favorita?
Tomar banhos de mar, ler, passear, comer, beber, fumar cachimbo, ver jogar o Benfica e ver resposta à décima terceira pergunta, não necessariamente por esta ordem.